quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Beija-Flor

Quando criança adorava observar os beija-flores em seu poético trabalho de alimentar-se com o néctar das flores ao seu redor. Todos os dias, protegido pela violeta camuflagem do entardecer, aparecia um beija-flor excepcionalmente belo, devido à harmônica variação de sua penugem  do castanho para o verde. Depois de buscar algumas flores ele parava à beira da floreira para trocar comigo, por alguns instante, olhares de curiosidade. Poucos dias se passaram até para que me cativasse, ganhou, assim, meu afeto, incondicionalmente.
Os beija-flores, porém, devido ao seu intenso viver, têm vidas torrencialmente rápidas. Se o tempo fosse um maratonista, ele nem teria esboçado uma gota de suor quando encontrei-o descansado sobre a floreira. Não pude evitar que algumas lágrimas fugissem de meus olhos quando estes se depararam com aquela cena.
Corri, então ao meu Avô e contei-lhe toda a história suplicando inconscientemente que trouxesse o beija-flor de volta. Ele calmamente disse a mim que ele não havia partido por completo. Contou-me que a vida inteira a pequena ave transmitiu um pouco de sua vida aos outros seres em forma de memórias e sentimentos. Seu corpo pediu um pouco de repouso de sua sisífica vida, porém tudo aquilo que ele deixou ainda está vivo dentro de nós.
Sabendo daquilo queria, então, que meu Avô fizesse as lágrimas irem embora. Os olhos compreendem mais do que as palavras conseguem explicar, respondeu-me. Por isso, continuou, como nem sempre conseguem comunicar tudo o que veem, às vezes eles precisam afogar as mágoas acumuladas. Os meus, concluiu, não suportaram o fato de saber que não viriam novamente o magnífico voar do beija-flor ao entardecer.
Sem palavras retirei-me, mas retirei-me convicto de que eu também, assim como o pássaro, faria de tudo para deixar o máximo da minha vida com cada um que por ela passasse.

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